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segunda-feira, julho 04, 2005

O Cavaleiro Inexistente de Italo Calvino

Li em poucas penadas este romance de Italo Calvino. Foi a minha primeira incursão pela obra deste aclamado escritor italiano. Ocorreu-me que este escritor tem dois nomes bastante significativos, o que, sei-o bem, não vem a propósito.

Trata-se O Cavaleiro Inexistente de um romance de cavalaria, ou melhor de uma paródia a este género literário, aliás, de vetustez assinalável. Deve ter surgido com a nobre arte da cavalaria. Há, claro, algo mais nesta obra que essa paródia. Escrita em 1952, é fácil de adivinhar a tendência do autor na altura, não querendo, longe disso, situar ou catalogar o romance. No entanto é recorrente a sensação do existencialismo literário ao ler-se este livro.

Não há nesta sensação qualquer indício de exclusividade, ou seja, é mais que isso. A questão do Ser é tema central da obra, mas não único. O estilo fluído e rápido, a habilidade da freira que narra a obra e que nos surpreende no fim, conferem ao Cavaleiro Inexistente um cariz de obra circular, completa, suficiente. Para nada serviria o existencialismo, caso Calvino o não quisesse. Mas quis e ainda bem.

Falarei agora das personagens. Em primeiro lugar, Agilulfo, o cavaleiro que é só a armadura, que não existe. Trata-se de um homem, enfim, um pouco metafísico, mas um homem, que representa o ideal da cavalaria. O arquétipo do cavaleiro heróico e errante. Para tal, a ausência de estômago, logo de fome e sede, a falta do restante trato digestivo, logo de mundanas necessidades, de órgãos sexuais, logo de luxúria e excitação animalesca, confere à personagem todas as qualidades necessárias. Se a tal acrescentar a destreza com as armas, a impenetrabilidade da sua armadura, sempre impecável, e a sua extrema organização e zelo, temos o cavaleiro perfeito. Perfeito, logo, não existe.

Trata-se de uma obra silogística. Se não tem corpo, não tem fraquezas, então é perfeito. O mesmo se passa com outras personagens, com o Gúrdulu, por exemplo, que pela força de tanto existir se confunde com o que existe para além dele. Lembra-me o Sartre. Isso mesmo, o Sartre. Que ainda era pouco conhecido em 1952, mas já o era pelo Calvino.

A Bradamante, cavaleira misteriosa, sensual e perfeita, ou quase, que desdenha à força de tanto ter experimentado, de todos, menos de Agilulfo. Todos os outros paladinos tinham estômago, cheiravam mal, tinham desagradáveis apetites sexuais. Eram humanos. A dualidade “humano – divino” e a busca por uma das partes por excesso da outra, aparece com a cavaleira.

Cavaleira por quem Rambaldo, flamante jovem cavaleiro com desejo de vingança, se apaixona. A satírica secção de Vinganças gerida pelo Agilulfo é anedótica. Kafka também ajuda Agilulfo nos seus excessos de zelo. Este rapaz tem tanto de divino como de humano, é a conclusão que tiro. É um Homem. Que no fim fica com Bradamante.

Apresentadas as personagens, resta dizer que este livro se engloba num conjunto de três, sendo um dos quais o famigerado Barão Trepador, que conto ler em breve. Uma agradável descoberta, só possível graças à minha ignorância, pelo que agradeço a esta grande Entidade Universal.


Alverca, 19 de Janeiro de 2003.

“Homem Duplicado”, José Saramago


Acabei de ler "O Homem Duplicado" do inefável Saramago. Falar-te-ei de forma não mais que qualitativa, não descreverei uma linha que seja da obra, não me perdoaria se o fizesse. A obra vive, em parte, do inesperado.

Começa rápida, entra imediatamente ou quase no assunto. Segue-se ao começo uma longa fase introdutória, pouco narrativa, onde o Saramago avança aos poucos, preso a pormenores, tece considerações de toda a índole. Revisita obras passadas, dele, por pouco não cita, simula, espreguiça-se, e quem sente a doçura da preguiça é o leitor. Um lento passeio pelo estilo que estigmatiza, mas com um sólido, inexorável e preparatório avanço no enredo.

Cria um clima afável, simpático, descontraído. Mas... A derradeira parte do livro conhece um crescendo, um ataque, uma violência, uma tensão inacreditável. Com uma técnica de virtuoso, Saramago arrasta-nos impiedoso, golpe atrás golpe, qual mastim com a presa nos dentes, até nos desfazer por completo, aventando-nos bruscamente contra uma parede.

Uma obra genial. Mostra o que se pode fazer quando se é Saramago. Ridiculariza, fazendo-os explodir em miríades de cintilantes pedaços de vidro demasiado pintado, os mestres do policial. Saramago exercita todo o seu estilo, toda a sua categoria, visita campos que não os dele. Que digo eu? Ele é senhor de todos os campos. Raios partam o homem, é demasiado bom. Chiça!

“Histórias à Volta da Mesa” de Óscar Wilde

A Coisas de Ler publicou, no passado mês de Maio uma tradução para português das Histórias à Volta da Mesa de Oscar Wilde. Numa época em que a maior parte das publicações em Portugal se encontra mergulhada na mais negra mediocridade, é com regozijo que se assiste à edição de obras desta magnitude. Sendo natural que a produção anual de bons autores portugueses não seja suficiente para todas as editoras activas no mercado livreiro, é com resignação que se aceita a publicação das novas vagas literárias, de autores, na sua maioria autoras, que primam por uma indigência no que a conteúdo respeita que raia os limites da iletracia..
O que já não será tão facilmente explicável é a proliferação de traduções de obras igualmente indigentes de autores tão ou menos brilhantes que os nossos menos felizes exemplares. Posto este cenário, torna-se evidente a importância que uma publicação como a que trata este artigo assume na manutenção da saúde mental dos portugueses, no combate à iletracia.
Este texto reúne um conjunto de transcrições de histórias que Wilde contaria nas suas aparições sociais, que foram, durante toda a sua vida, muito frequentes. Em Paris, onde sempre foi estimado, falou que se fartou e contava as mirabolantes histórias que neste livro se recolhem.
Esta antologia, escrita por pena alheia ao escritor, possui, como seria de esperar dada a heterogeneidade das fontes, transmite ao leitor toda a pujança criativa do génio de Wilde. A originalidade das histórias, a amoralização das mesmas torna-se tão mais genial quando se atentar à época em que foram contadas, o ainda não muito moderno final do século XIX. A leveza do estilo, a extrema elegância e concepção estética são atributos bem patentes nas obras do autor. Neste livro sobressai a magia do poder criativo do escritor.
Algo que torna ainda mais transcendente esta obra é a percepção da infinidade do talento de Wilde. O facto de ser esta colectânea de histórias evidentemente uma pequena parte do repertório de Wilde leva o leitor a imaginar o que seria ouvi-lo durante horas a fio, como fizeram os privilegiados parisienses.
Os contos bíblicos prendem especialmente a atenção dada a audácia dos mesmos, o ponto de vista humano das lendas de santos e dos textos sagrados para os cristãos, sempre visto com tanta reserva pelos espíritos fechados, não deixa de ser assinalável o facto de ele os contar no século XIX, quando sabemos as dificuldades que os escritores de hoje têm ainda de escrever sobre o que é sagrado. Espanta que ainda seja tão difícil poder ter uma maneira diferente de ver aquilo de que muitos julgam saber a verdade.
A prespectiva de Wilde é, no entanto, mística. Longe do agnosticismo de Saramago, longe do pós-modernismo de Rushdie e do existencialismo de Sartre.

"Discurso sobre o filho da puta" de Alberto Pimenta

Tudo começou com a morte do realizador de cinema, César Monteiro. Ao folhear o Público na livraria “O Paço” do Lumiar, dei com uma frase do realizador que dizia algo semelhante a isto: “Gosto muito da expressão filho da puta. O meu sonho desde há muitos anos é ser presente a tribunal e quando o juiz me dissesse: Levante-se o réu, eu responderia: Levante-se você, seu filho da puta!”.

O dono da livraria, ao ouvir essa frase, perguntou-me se eu conhecia o discurso sobre o filho da puta, do Pimenta. Não, respondi.

Passado cerca de um mês, fui à livraria e aguardava-me o exemplar do próprio livreiro, pode levar emprestado se quiser. Claro que quero, então leve. Levei e li.

Trata-se de uma espécie de poema, fortemente interventivo e satírico em que o autor faz uma descrição fabulosa de um tipo de gente, a que ele, e nós todos, chama filho da puta. Como vivem, o que os move, como se reproduzem, como nascem, está tudo lá. Uma maravilha da escrita, com um estilo à manifesto, repetindo ad infinitum as palavras filho e puta. No fundo, é uma reflexão sobre a natureza do homem, no seu pior. Sobre a mesquinhez, a miséria mental, a filhadeputice que todos tão bem conhecem.

Tudo se prende a uma questão de atitude face à vida, parece ser a explicação de Alberto Pimenta. Para ele, o filho da puta é o tipo que detesta a vida, para quem tudo é, ou deve ser, complicado, para quem a vida é um frete e que detesta todos os que vivem despreocupados. A obra foca muito esse ponto. A despreocupação face à vida torna-se o aspecto essencial, que distingue o que é do que não é filho da puta.

Revi, como qualquer um fará ao ler o livro, um conjunto de malta conhecida, bem escarrapachada naquelas linhas. Serviu-me a leitura para um refrescar de questões de atitude. Para me lembrar que a vida é por definição o que importa, a única coisa que importa. E que viver é ser apaixonado, dedicado e descontraído. É ter humor e dar às coisas a importância que elas têm. É pensar menos no que os outros pensam ou podem pensar.

Se há linhas que merecem a pena ser lidas, as do Pimenta estão lá.



Alverca, 2 de Março de 2003.

Avenida Névski de Nikolai Gógol


No pequeno livro da Assírio & Alvim, encontra-se, traduzido pelos Guerra, Nina e Filipe, uma deliciosa novela de Nikolai Gógol, a Avenida Névski.

Falando de uma rua, Gógol retrata dois episódios de duas distintas existências, a de Piskariov e de Pigorov, sendo o primeiro um pintor e o segundo um tenente do exército russo.

Tudo começa com uma notável descrição da Avenida do título, com as pessoas, as lojas, a azáfama, as horas de movimento e as outras, uma admirável recolha de estereótipos da São Petersburgo de meados do século XIX. E já que de estereótipos se fala, avente-se este lugar comum, bem podiam as personagens de Gógol ser de outros tempos quaisquer.

O que no entanto sucede às pessoas, as suas mentalidades como conjunto, ou seja, o aspecto social, esse sim é datado, mas, e não é sempre assim, os seres humanos quando analisados isoladamente mudam pouco com os séculos, alteram-se com os milénios, não com menos que isso.

De Piskariov, o pintor, fica a imagem romântica, patética, de um tipo que se enamora com uma prostituta que persegue na Avenida com quem sonha, com quem almeja casar, retirando-a da desgraça que a assolou. O desfecho é previsível, a moça não está interessada em mudar a sua vida, em ser lavadeira ou cerzideira, quer manter-se tal como está. Em suma, não quer ser salva pelo fogoso ainda que tímido artista. E não foi e o pintor morreu, suicidado.

Já na história de Pigorov, encontra-se uma figura quase oposta à de Piskariov, trata-se de um oficial, com o rei na barriga e convencido da sua irresistibilidade ante as indefesas moças. Ao perseguir uma outra moça (assim começa a história, ambos os rapazes se separam na Avenida Névski perseguindo cada qual a sua cachopa) embarca numa humilhante aventura.

A rapariga loura, alemã, bonita e pouco brilhante que ele persegue nada quer com ele, e logo a ele, rapaz pouco habituado a negas. Mas assim foi e tanto insistiu o garboso jovem na conquista da dama que acabou sovado pelo marido e respectivos amigos, todos alemães e todos comerciantes.

Vale a segunda parte da novela pela magnífica e actual descrição dos alemães, dos russos e até dos ingleses. Uma vez mais os estereótipos, mas não é a realidade que conta ou que caracteriza os povos. Disse Eça e com razão que só a literatura pode efectuar tal desígnio, e eu acrescento, só a literatura cria os povos, só ela os sabe distinguir. E para que se saiba onde li eu isso, foi Carlos Reis, na sua Introdução aos Estudos Literários quem me disse.


Alverca, 14 de Novembro de 2003.

“A Morte de Ivan Ilitch” de Leon Tolstoi


É de doença, degeneração e decadência que fala esta novela de Tolstoi. É uma obra assustadora e até quase ao final, assaz deprimente. Ao assistirmos à decadência de um homem, arrastamo-nos com ele, padecemos dos seus males, tal é a técnica do mestre.

No final dá-se uma transformação do tom, uma nova moral nasce, a redenção daquela alma, a visita do padre que lhe traz o último sacramento, acabam por iluminar finalmente a existência até então postiça e pálida de Ivan.

Afinal, Ivan vivia uma vida insignificante, sem ter conhecido o amor, sem ter conhecido nada sem ser o seu trabalho de funcionário, de pequeno juiz, dono de ainda mais pequeno poder, da sua medíocre jactância, enfim, só com a doença e a avançada degeneração se apercebeu que, talvez fosse a morte a sua maior bênção. O outro Ivan, no entanto, manteve as suas aparições, em alternância, com o apego animal à vida.

No fim sobreveio a revolta, patente na sua afirmação, já moribundo, em que diz à sua família que finalmente se vão ver livres dele. Aqui se desenha o fracasso da sua existência que nem à sua família soube agradar, que mesmo aos amigos do whist, com quem jogava, salvo o erro, às quintas-feiras, lhe sentiram muito a falta. Um deles avantajava-se já na busca pelo seu lugar, aos outros tanto lhes fazia. Só um deles se dignou a interromper a partida para dar um salto ao velório de Ivan Ilitch.

Trata-se de uma obra notável pela intensidade da narrativa, pela riqueza da única personagem trabalhada, o próprio Ivan, riqueza que afinal se revela mediocridade e medo. Um ser humano vulnerável e frágil, um ser humano como tantos outros, como quase todos os outros. Rico porque abrangente, porque representativo, porque muito real.


Alverca, 2 de Março de 2003

domingo, julho 03, 2005

A Casa de Fernanda Alba

A peça "A Casa de Fernanda Alba", em cartaz no Teatro Municipal São Luís, é da autoria de Federico Garcia Lorca. A encenação ficou a cargo de Diogo Infante.

Fui vê-la ontem, 2 de Julho de 2005, e pude observar, numa sala quase cheia, o genial cenário, uma espécie de laje branca, com uma abertura em jeito de clarabóia de onde se podia apreciar a espessura da mesma.

sábado, agosto 07, 2004

Uma recensão do "Cerco de Cartum" de Olivier Rolin:

"L'homme qui parle dans Méroé, qui raconte, à partir d'un point précis du temps narratif, son exil et son amour, son désir et sa rage, connaît le poids littéraire des mots, des phrases. Vrai héros lyrique ou romantique, il convoque le monde dans la chambre de résonance de son émotion personnelle. Écrivain, il n'avance pas dissimulé derrière le masque de la fiction ; très classiquement, il est le prolongement, le substitut oui le porte-voix de l'auteur. L' homme qui parle a aimé une femme, Alfa. Elle l'a quitté. Il s'est retrouvé à Khartoum, au Soudan, exilé, enseignant vaguement le français iux fonctionnaires de cette " dictature militaro-islamique, mariant les charmes respectifs des généraux et des sheikhs ".

À l'instant où commence le roman, il attend la police, qui viendra peut-être lui demander des comptes sur la mort, trois mois plus tôt, d'une archéologue allemande, Else, enfouie sous le sable du site de Méroé. Il attend, attablé à l'hôtel des Solitaires, avec dans sa chambre les six tomes d'une ancienne édition de l'Encyclopédie Larousse. Il parle à Harald, un Norvégien adipeux, se souvient d'Alfa, ," orne de mots" , son souvenir, "ce trésor ", pour se prouver à lui-même qu'il n'est pas de "pacotille". Discours inaugural où, dans une confusion savante, un tremblement crépusculaire, le narrateur expose la trame, la tonalité sensible du livre. Discours dont le lecteur est invité à dépasser l'apparent désordre - et la relative difficulté - pour entrer dans l'épaisseur du roman.

Un point temporel fixe, donc, - et Rolin est extrêmement précis sur toutes les datations, attentif, jusqu'à l'ivresse à noter les relais et correspondances du temps - à partir duquel l'auteur va dessiner une magnifique et très rigoureuse spirale mêlant à l'histoire personnelle du narrateur le tumulte, ou le silence, de l'histoire extérieure, de la plus reculée à la plus récente. Deux hommes vont jouer, auprès du narrateur, le rôle de médiateur : Vollender, le vieil archéologue est-allemand, humilié lors de la réunification, découvreur du site fabuleux de Méroé, " la capitale de ce peuple que les Égyptiens nommaient Kouch et les Grecs, puis les Romains, "Éthiopiens", c'est-à-dire "faces brûlées" " dont parlent Hérodote, Strabon, Pline et Sénèque ; le colonel anglais Charlie Gordon, mort décapité un jour de janvier 1885 par les troupes musulmanes de Mohamed Ali, dit le Mahdi, qui faisaient le siège de Khartoum depuis près d'un an.

Ces deux figures, la première actuelle, la seconde passée, s'inscrivent dans cette spirale d'une durée sans limite que le roman voudrait dessiner. D'une durée qui s'ouvre, d'un côté, sur une mémoire perdue, une archéologie des temps évanouis, de l'autre sur une fin rêvée et mélancolique du temps. Ce qui fascine Olivier Rolin c'est l'absence des origines. Le prologue manque toujours. Alfa, malgré son nom, n'est que la butée affective, amoureuse, le visage auquel le narrateur se heurte, dont il recherche les traits perdus auprès d'une autre femme, Dune, puis d'Else. Le Nil, " père des fleuves " pour lui, a moins sa source dans le Paradis des chrétiens que dans les ténèbres de l'inconnaissable. "Les histoires n'ont pas de commencements, ni d'endroit ou d'envers, on peut les retourner comme les pieuvres que les pêcheurs battaient sur les rochers, les dire autrement. "

"Ce que j'exhume en vérité, c'est du temps", affirme l'archéologue. "Je fais, voyez-vous, l'autopsie du temps. J'explore ses tissus délicats, ses viscères marbrés, infiniment enroulés sur eux-mêmes". Vollender, grattant le sable du désert en quête des vestiges d'une civilisation morte, livré à "l'étude de cette chrétienté aberrante, séparée de son origine, enfermée dans ses déserts"; Gordon, guetteur obsédé par la défaite, la désirant, rétif à "cette pitoyable concession au monde mort de la réussite ", consignant dans son journal les détails d'une fatalité à laquelle il se sacrifie... Méroé est l'histoire de cette hantise, à laquelle le narrateur prête sa voix et Rolin son désir d'écrivain. Ce désir qui fut celui du Conrad, de Cendrars, de Lowry.
Livre superbe, avons-nous dit, et intimidant de force et aussi d'intelligence romanesque, dans la lignée de L'Invention du monde et de Port Soudan (Seuil, 1993 et 1994), mais dépassant en intensité ces deux romans. Remarquable notamment cette capacité que manifeste l'écrivain de concilier emportement lyrique et maîtrise narrative. Remarquable également son écriture qui, à l'opposé du "beau style", invente à mesure ses tournures, son rythme, son souffle. On comprendrait mal que Méroé ne constitue pas, en cette rentrée et dans ses suites, ce qu'il est convenu d'appeler un événement littéraire."
Patrick Kéchichian (Le Monde)

quinta-feira, dezembro 11, 2003

Acabei de Ler "triologia de Nova Iorque " do Paul Auster. Achei o livro muito estranho, mas sinceramente não o achei mau, gostei especialmente dos joguinhos do "eu", das personagens, e do nome do Autor.

Cumprimentos


sábado, setembro 27, 2003

A Aura de Carlos Fuentes

Delicioso. Uma ideia simples transformada num pequeno romance, ou num grande conto, seja como for, numa obra absolutamente deliciosa.

sexta-feira, agosto 15, 2003

Paris é uma festa, diz Hemingway.

Ao ler o "Paris é uma festa", tornei-me muito mais rico. Nem sempre, após uma qualquer leitura, tal sucede, mas foi o que o Hemingway me deu, alargou-me a alma. Sou hoje um homem mais completo. Conheço agora Paris como a palma das minhas mãos, sei onde correm os cavalos, onde se bebe bom vinho e onde se pode escrever sossegadamente da parte da manhã. Sei ainda onde se bebe um café creme decente na cidade luz. Também sei por onde devo andar se não quiser ou puder almoçar, sei os passos a dar para não cair nas armadilhas do cheiro a comida. E se quiser ser escritor? Bem, se quiser ser escritor, nada vale tanto como falar com outros escritores, que conhece-los, a eles e às suas experiências. E se não me bastar Hemingway e quiser conhecer Fitzgerald e Erza Pound, bem, nesse caso, ter-me-ei decidido bem pela leitura de "Paris é uma festa".

No entanto, falta algo. Falta a consistência. O nível da obra é oscilante, aliás, os seus capítulos são, salvo poucas excepções, completamente independentes. Tem momentos decididamente fracos, este livro, e lembro-me das histórias passadas nas montanhas suiças que nada têm que ver com Paris nem nada têm de interessante para animar o leitor.

Fica-se com a sensação que se trata de uma compilação de notas de Ernest feita a título póstumo ou uma forma encontrada pelo autor de publicar mais um livro à pressa, para facturar mais algum. Não sei qual das duas será, mas tanto faz, darei uma terceira oportunidade ao Hemingway. Anote-se que naquilo em que o livro é bom, na transmissão do modus vivendi do autor e da cidade, nos geniais momentos da obra em que se descrevem cafés e ruas, cheiros e sabores, vinhos e poetas, nisso, o livro é mesmo muito bom.


quinta-feira, agosto 14, 2003

Miguel Torga e os “Bichos”
Miguel Torga é o pseudónimo de Adolfo Correia da Rocha, nascido em 12 de Agosto de 1907, em São Martinho da Anta, Trás-os-Montes, faleceu em 1995.

Formou-se em Medicina na Universidade de Coimbra, colaborou na revista Presença, e dirigiu as revistas Sinal e Manifesto.

Em 1976, recebeu Grande Prémio Internacional de Poesia das Bienais Internacionais de Knokke-Heist, em 1980 o prémio Morgado de Mateus, em 1981 com o prémio Montaigne (Alemanha), em 1989 com o prémio Camões, e em 1992 com os prémios Vida Literária da associação Portuguesa de Escritores e Figura do Ano da Associação dos Correspondentes da Imprensa Estrangeira.

Os Bichos é o titulo de um conjunto de 14 contos, publicados em 1940, em Coimbra. Torga procura a pureza, não se perde com problemas mundanos, nem com floreados, de uma maneira erudita e telúrica, constrói personagens que lembram Auguste Rodin, e o seu celebre Pensador, pelo modo como através de acções físicas conseguem exprimir emoções, sentimentos, ou simples pensamentos.
Dos contos destaco Mago o gato caseiro e bonacheirão, que com a vida de ócio e os minos de D.Sância, foi perdendo o seu ágil e agressivo ar de gato de telhado, vive com a incapacidade de reconhecer perante ele próprio o que realmente é, até que um dia picado pôr um antigo colega,vai a uma das reuniões do bairro, na qual, se vê humilhado, devido a ser o alvo da chacota, para tentar recuperar o respeito perdido, tenta agredir um antigo rival, que o maltrata. Ferido no seu orgulho e não só, volta para casa reconhecendo que nos últimos anos não fez um esforço sério para sair daquela situação, no entanto revoltado e com nojo de si mesmo, afirma sobre a casa: “ A paz pobre dum conforto castrador...Que abjecção! Que náusea!”, não aceitando no fim a sua infeliz condição, mas voltando. No meu entender este conto trata do laxismo, é devido a ele que Mago engorda, vai a reunião e finalmente volta para casa .Há um confronto com a realidade que prevalece sobre desculpas imaginadas, com o intuito de a esconder e de adiar problemas. Um conto brutal, tal como os outros que não pode deixar ninguém igual depois de uma leitura atenta.

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